Os Pontos de Vigia do Pinhal de Leiria são quatro olhos vigilantes da mata.

Arala Pinto, 1939.

No concelho da Marinha Grande existem cinco postos de vigia sobre o Pinhal de Leiria. Estes postos são chamados, tradicionalmente, de pontos. Dos cinco pontos existentes apenas três estão na área de abrangência do Pinhal e dois fora dessa área. Apenas três se encontram no ativo, precisamente os que se encontram no interior do Pinhal. Os três pontos de vigia públicos ativos, inseridos no interior da Pinhal do Rei, são: Ponto da Crastinha, Ponto Novo e Ponto do Facho. Os pontos de vigia fora da Mata, que se encontram desativados, são: Ponto da Boavista (na cidade de Marinha Grande) e Ponto dos Outeiros (em Vieira de Leiria).

A sua Utilidade

Os pontos no Pinhal do Rei são postos de vigia no sentido de observar a maior extensão possível da Mata. Por este facto, os pontos estão estrategicamente colocados de forma que permitam a visualização da totalidade do Pinhal do Rei. Por este facto, Arala Pinto considerou que os pontos de vigia do pinhal de Leiria são quatro olhos vigilantes da mata…

Além da função que desempenham, têm ainda valor como pontos de observação e disfrute da Mata, oferecendo vistas deslumbrantes aos visitantes, e são elementos arquitetónicos icónicos e de referência na paisagem.

Presentemente, por esta grande abrangência de área de observação, os três postos de vigia, são utilizados nos meses de maior incidência de incêndios (de julho a setembro) como meio de vigilância da Mata Nacional, 24 horas por dia. Estes postos de vigia constituem, assim, a rede de vigilância fixa no concelho da Marinha Grande.

Cronologia dos Pontos de Vigia ainda existentes

Os pontos no Pinhal foram inicialmente construídos em madeira, por Bernardino Barros Gomes (do Facho e da Crastinha), com torres anexas até cerca de 1883. Foram sofrendo alterações ao longo do último século passando de madeira a alvenaria. Dos pontos existentes, apenas o Ponto do Facho e da Boavista eram assinalados, numa publicação de 1939, como tendo sido construídos em alvenaria. Posteriormente, seriam substituídos por ferro até chegarem à sua forma atual (a partir de 1937) com a construção em cimento armado, por Mário Amaro dos Santos Galo. O Ponto da Boavista manteve a sua traça original (em alvenaria) desde 1885, sofrendo obras de ampliação em 1898. O Ponto do Facho recebeu obras de manutenção em 2007, sendo substituída a escada original por uma escada vertical.

Caraterísticas Comuns

O facto de terem sido projetados pelo mesmo engenheiro (Mário dos Santos Galo) levou a que os pontos de vigia (do Facho, Novo, Crastinha e dos Outeiros) possuíssem várias características em comum. Todos foram construídos em 1937, em cimento armado, com uma escada em caracol a circundar a torre de vigia (atualmente o Ponto do Facho possui uma nova escada, vertical, construída em 2007), encimados por uma estrutura de vigia. A altura total é igual para estes quatros pontos de vigia: 15 metros. Possuem uma arquitetura à época inovadora e constituíram, a partir de meados da década de 1930, o embrião da Rede Nacional de Postos de Vigia.

O Ponto Novo

O Ponto Novo encontra-se no talhão 265 do Pinhal do Rei, na freguesia da Marinha Grande. Tem 15 metros de altura total e encontra-se a uma altitude do nível do mar de 115 metros. Em tempos mais antigos já se chamou Ponto da Carvoaria.

Foi originalmente construído em cimento armado, como os restantes pontos de observação no interior da mata, e a sua construção data de 1937. O Ponto Novo, veio substituir o Ponto da Ladeira Grande.

O Ponto de Vigia da Crastinha

O Ponto da Crastinha encontra-se no talhão 106 do Pinhal do Rei, na freguesia de Viera de Leiria. Tem 15 metros de altura total e encontra-se a uma altitude, em relação ao nível do mar, de 82 metros. A sua construção é em cimento armado, à data de 1937, como os restantes pontos de observação no interior da mata. No entanto, a sua construção inicial foi em madeira e depois em ferro.

O seu nome poderá ter alguma ligação com as dunas longitudinais que foram sujeitas às primeiras tentativas de fixação das areias (no início do Séc. XIX), através da técnica do ripado, um processo apelidado localmente por crastas.

 

O Ponto de Vigia do Facho

O Ponto do Facho encontra-se a 146 m de altitude, tem 15 m de altura e foi construído em 1937. Encontra-se no talhão 338, na Freguesia de Marinha Grande, e foi originalmente construído em madeira, depois em alvenaria (1883) com a altura de 14 m e, posteriormente, em ferro. Atualmente, tal como os restantes postos de vigia da Mata, a sua construção é em cimento armado.

Este Ponto sofreu obras de conservação, em 2007, tendo sido retirada a escada original em caracol e substituída por uma escada metálica vertical acoplada à torre de vigia.

O Antigo Ponto de Vigia da Boavista

Este ponto encontra-se na cidade de Marinha Grande, a uma altitude de cerca de 95m. A atual construção é ainda a original de 1885, em alvenaria, à exceção de obras de ampliação realizadas em 1898, e há muito que se encontra desativado. Este Ponto veio substituir o Ponto de Vigia do Edifício da Resinagem, talvez pelo facto da Boavista se encontrar num ponto mais elevado da Marinha Grande.

A sua arquitetura tem uma característica peculiar. A sua torre de vigia é semelhante à de um farol, com uma estrutura em alvenaria, de forma octogonal, e com acesso ao topo por uma escada interior em caracol. No início tinha uma cúpula de madeira sendo, posteriormente, em 1898, feita em pedra. O Ponto da Boavista, por se encontrar fora da Mata, não só vigiava todo o Pinhal, como recebia e dava sinais, de e para os outros Pontos, de dia por meio de bandeiras e de noite com luz. Anexa à torre de vigia, existia uma pequena casa onde viviam os Guardas que faziam a vigilância.

O espaço do Ponto da Boavista é, atualmente, propriedade da Liga dos Combatentes.

O Antigo Ponto de Vigia dos Outeiros

O Ponto de Vigia dos Outeiros, encontra-se na freguesia de Vieira de Leiria. Este Ponto é em tudo idêntico aos Pontos de Vigia ainda hoje existentes ao serviço no Pinhal do Rei (Facho, Novo e Crastinha). Tendo em conta as caraterísticas da sua arquitetura, tudo leva a crer que foi construído, provavelmente, obedecendo ao projeto do Eng.º Mário Amaro Santos Galo na década de 30 do século passado, tal como os outros que ainda se encontram no ativo.

Apesar deste Ponto de Vigia, conhecido como Mirante, se situar fora do perímetro do Pinhal do Rei, servia não só este Pinhal mas também o Pinhal do Pedrógão fazendo a ligação entre estas duas matas vizinhas. Atualmente está desativado e o terreno onde foi construído foi vendido a um particular que, dado o avançado estado de degradação em que se encontrava o Ponto, o recuperou.

Pontos de Vigia já Extintos

Nos finais do Séc. XIX existia um Ponto de Vigia no Edifício da Resinagem. No pátio interior do edifício existia um “esqueleto” de madeira com uma altura de 12 metros que servia de posto de vigia contra incêndios no Real Pinhal. Foi substituído, a partir de 1885 pelo Ponto da Boavista.

De acordo com Arala (1939), existiu no Pinhal do Rei (no talhão 282) o Ponto da Ladeira Grande, ou Ponto Velho, construído em madeira, sendo substituído pelo Ponto Novo, em 1937.

O Farol do Penedo da Saudade iniciou o seu funcionamento em 1912. E, apesar de não existir uma confirmação concludente, parece que foi também utilizado como Ponto de Vigia do Pinhal do Rei. Mas é certo que os faroleiros colaboraram na deteção e comunicação de fogos no Pinhal. A propósito desta colaboração, Arala escreveu o seguinte a propósito do Farol do Penedo da Saudade: “Com júbilo quero deixar aqui registada a minha admiração (…) e o agradecimento aos faroleiros de alguns avisos dados a tempo, de fogo no pinhal.”

Os Vigilantes, Observação e Formas de Comunicação

Por altura do Séc. XIX, os Pontos de Vigia tinham casas anexas para os vigilantes. Dessas casas anexas aos Pontos do Pinhal do Rei, apenas resta a do Ponto da Crastinha, infelizmente em adiantado estado de degradação. De forma a observarem a Mata, viviam nas casas de madeira, contíguas às estruturas de observação, dois ou três homens (jornaleiros)  que vigiavam o Pinhal de noite e de dia, que se iam revezando entre eles. Em caso de incêndio, um deles iria avisar a Administração do Pinhal. Estes vigilantes ali permaneciam na época do defeso (de maio a outubro, ou novembro).

Quanto à comunicação entre os Pontos, diz Arala, que de dia fazem sinais por meio de bandeiras e de noite por meio de focos luminosos, sem, no entanto, se puder identificar convenientemente o talhão afetado pelo fogo. Os pontos de vigia espalhados pela Mata estavam equipados, desde 1887, com uma luneta giratória e um telefone bastando duas comunicações para que se saiba qual o talhão sinistrado.

Hoje em dia, os três Pontos ativos encontram-se sob a alçada da GNR. Nesses Pontos de Vigia, a comunicação do sistema de vigilância do Pinhal é feita via rádio. No período de 15 de maio a 30 de junho (Fase Bravo) o período de funcionamento dos postos de vigia é das 11-19h, sendo que com o começo da Fase Charlie os postos de vigia funcionam durante 24h.

Texto: MG. Fotografia: CF, DF, HA