A partir de finais da década de 1850, o escoamento para o exterior dos produtos do Pinhal do Rei foi feito com recurso ao Caminho de Ferro Americano de tracção animal, que, numa extensão de 36 km, fazia a ligação entre Pedreanes e o porto de São Martinho do Porto.
Porém, em 1885, com o início da construção da linha de caminho-de-ferro do Oeste, que aproveitou parte do traçado da linha do Comboio Americano, e com a chegada à Marinha Grande dos comboios a vapor em 1888, o Comboio Americano foi desativado, passando o escoamento dos produtos do Pinhal a ser feito através da nova linha de caminho-de-ferro do Oeste.
Tendo-se resolvido o problema do escoamento para o exterior dos produtos do Pinhal com a entrada em funcionamento da Linha de Caminho-de-ferro do Oeste, prevalecia o problema dos transportes dentro da Mata e entre Pedreanes e a estação dos caminhos-de-ferro, já que a rede de estradas era diminuta e os caminhos existentes tinham pouca resistência aos pesados carros puxados por bois, carregados de lenha e grandes toros. Este problema foi resolvido com a introdução de um novo comboio, entretanto chegado a Portugal como forma de pagamento de indemnizações por danos de guerra a que a Alemanha, perdedora da guerra 1914-18, tinha sido obrigada a pagar aos países vencedores.
Por iniciativa do Eng.º Silvicultor António Mendes de Almeida, o comboio foi trazido para o Pinhal do Rei, começando a circular em 1923.
A construção da linha férrea teve orientação do Silvicultor António Eduardo F. Gameiro, sendo a estação e armazém para recolha de material para o novo comboio construídos em Pedreanes.
O pequeno comboio de via reduzida (60 cm), sistema Decauville, era composto por três máquinas a vapor alimentadas com lenha do próprio Pinhal, dois vagões de passageiros, vários outros de caixa aberta, para carga variada, e alguns próprios para o transporte de grandes pinheiros.
Este comboio ficou conhecido por “Comboio de Lata” quando, certo dia, num grupo de amigos, o Dr. Manuel Francisco Alves, a exercer como médico concelhio, em tom brincalhão, exclamou: «Um Comboio de Lata!…». E por esse nome ficou conhecido.
Existiam 3 linhas principais: Pedreanes – estação dos caminhos-de-ferro; Pedreanes – S. Pedro de Moel (Farol do Penedo da Saudade); Pedreanes – talhão 225 (perto da Ponte Nova). Esta rede ferroviária tinha cerca de 30 km, possuindo também vários ramais amovíveis que podiam ser montados para serviço nos talhões sujeitos a corte final. Havia também pequenos ramais para as principais serrações marinhenses.
O Comboio de Lata transportou também pedra, areia e outros materiais necessários à construção de uma rede de estradas que, a partir de 1948, começava a nascer no Pinhal.
Em dias festivos, principalmente na Quinta-Feira de Ascensão, o comboio era cedido à população para passeios no Pinhal ou idas à praia.
Também os veraneantes de S. Pedro de Moel, uma ou duas vezes por época, tinham o privilégio de nele passearem e tomarem conhecimento da importância e grandiosidade que tinha a nossa Mata.
Em 1965, com a rede de estradas praticamente concluída, o Comboio de Lata foi desactivado e deixou de circular, e em 1967 todo o conjunto que compunha este comboio (máquinas, carruagens e carris) foi vendido em hasta pública para sucata, à porta da Repartição de Finanças. Uma das máquinas e uma carruagem de passageiros foram, entretanto, adquiridas pela Câmara Municipal.
Em 1974, quando ainda funcionavam na perfeição, foram colocados no Parque Infantil Arala Pinto em S. Pedro de Moel, pretendendo-se mostrar ou apenas recordar o que tinha sido o célebre Comboio de Lata.
Mas, deixado ao abandono e sem a adequada protecção, o comboio foi alvo de vandalismo, e em poucos anos pouco mais era do que sucata.
Em 1996, por iniciativa da Junta de Freguesia da Marinha Grande, a locomotiva foi retirada de S. Pedro de Moel e exposta na Feira de Artesanato e Gastronomia da Marinha Grande e, em 1997, a mesma Junta promoveu um restauro da velha locomotiva, sendo então guardada nos estaleiros da Câmara Municipal.
Atualmente encontra-se nos pavilhões do Parque Municipal de Exposições da Marinha Grande, onde, por iniciativa da Junta de Freguesia da Marinha Grande, no âmbito da Feira de Artesanato e Gastronomia, tem sido por várias vezes exposta.
Duas das três locomotivas estavam (e estão) assinaladas com placas que indicavam a sua propriedade em favor das Matas Nacionais, ao mesmo tempo que numeravam cada uma delas. Uma das placas tem a indicação “MNN1”, enquanto a outra indica “N2 – MN”, indicações que queriam dizer: “Matas Nacionais” Nº 1 ou 2. Na locomotiva que ainda está na Marinha Grande não se conhece ou conheceu qualquer placa.
Sobre a locomotiva designada como “N2-MN”, da qual durante muitos anos se desconheceu o paradeiro, sabe-se hoje que se encontra em Vila Franca de Xira numa quinta de organização de eventos, onde, em pedestal, vai servindo de ornamentação exterior.
Quanto à locomotiva “MNN1”, depois de exposta em 1968 na Exposição de Arte Antiga de Lisboa, acabou por ser exposta como atração turística no exterior de um café em Cascais.
Em 1969/70, foi vendida para Inglaterra, onde, após várias mudanças de propriedade, acabou como sucata de um ferro velho.
Por volta de 1984 foi adquirida por um antiquário de material ferroviário, foi restaurada, e entrou de novo ao serviço, mas problemas na caldeira levaram a que fosse retirada.
Em 1996, depois de reparada, a “MNN1” voltou a circular, sendo usada alguns domingos de Verão e fins-de-semana de eventos especiais numa quinta de turismo rural em Inglaterra.
Os ingleses chamam-lhe agora Elouise.
Texto: JMG. Fotos: JMG & Arquivo