Os fungos são seres vivos eucariotas (constituídos por células com núcleo), heterotróficos (não fazem fotossíntese), que se alimentam por absorção e que se diferenciam dos restantes seres vivos por terem paredes celulares com quitina. Este conjunto de características levou Whittaker (1969) a integrá-los num reino próprio, separando-os do Reino Plantae. Segundo os mais recentes sistemas de classificação, constituem um reino do mundo vivo, os Fungi, que é aparentado com o dos animais (Metazoa).
Num sistema ecológico os fungos são os principais decompositores, contribuindo, desta forma, para reduzir a quantidade de matéria orgânica acumulada, transformando-a em minerais que são absorvidos pelas plantas. Uma parte importante dos fungos estabelece relações simbióticas com plantas (micorrização), ou com insectos, ou formando os líquenes com algas e cianobactérias, que desempenham um papel essencial na formação dos solos e na sucessão ecológica. Algumas espécies são parasitas de plantas e animais, incluindo seres humanos.
Os cogumelos ou esporocarpos são as estruturas reprodutivas sexuadas de um fungo, enquanto o micélio é a sua parte vegetativa, que consiste numa massa de hifas emaranhadas, sendo através deste que absorve os nutrientes presentes no substrato.
Estão descritas, presentemente, cerca de 100.000 espécies de fungos, mas as estimativas apontam para um número que varia entre 712.000 e mais de 5 milhões. Se considerarmos apenas os macrofungos – ou seja, os fungos cujos esporocarpos são reconhecíveis a olho nu –, estavam descritas em 2001 mais de 50.000 espécies.
Apesar desta diversidade e importância, os fungos em geral e os cogumelos em particular, acabam sempre por ser colocados em segundo plano nas listagens de fauna e flora dos diversos locais. Provavelmente, factores como o carácter inconspícuo das estruturas vegetativas (que se desenvolvem, normalmente, por baixo da superfície do substrato) e a efemeridade da maioria dos esporocarpos (de horas a poucos dias), aliados à sazonalidade muito marcada da maioria das espécies e ao facto de algumas delas poderem frutificar apenas com anos de intervalo, reduz o interesse e dificulta a inventariação.
Em Portugal o conhecimento na área da Micologia não está ao mesmo nível do conhecimento noutros países. Os estudos são poucos e limitam-se, por norma, a registos esporádicos ou a áreas muito reduzidas. Não existe publicada nenhuma flora micológica nacional, embora existam documentos com listagens das espécies existentes na Madeira (“Listagem dos Fungos, Flora e Fauna Terrestres dos Arquipélagos da Madeira e Selvagens”) e uma “Listagem Preliminar dos Fungos Agaricóides referenciados para Portugal entre 1878 e 1997”, realizada pelo Centro Micológico da Universidade de Lisboa em 1999, que não está disponível ao público, e que aponta para cerca de 1060 espécies.
Um dos estudos mais profícuos em Portugal foi realizado por José Miguel Pereira, que na sua tese de mestrado “Comunidades de macrofungos em bosques de Quercus faginea subsp. broteroi e de Quercus rotundifolia no maciço calcário de Sicó-Alvaiázere”, aponta para cerca de 380 espécies recolhidas entre Outubro de 2013 e Janeiro de 2014. Apesar de serem, reconhecidamente, dois habitats ricos em espécies, o curto período de recolha e a reduzida diversidade de habitats só pode significar que o número de espécies existente em Portugal será, muito provavelmente, bastante superior ao número registado na listagem preliminar.
Tanto quanto é possível saber, relativamente ao Pinhal do Rei não existe nenhum tipo de levantamento das espécies de cogumelos que aí ocorrem. Todas as publicações disponíveis referem apenas as espécies de plantas e animais mais comuns, mas ignoram por completo a diversidade micológica existente. Existem, no entanto, referências a espécies recolhidas e identificadas no Pinhal do Rei, tanto por investigadores nacionais como internacionais, que estamos a recolher e compilar.
A lista que se segue é um trabalho em permanente actualização e que pretende elencar as espécies de macrofungos confirmadas no Pinhal do Rei. É feita com base, essencialmente, em observações e identificações pessoais, mas também na observação de fotografias publicadas em grupos de discussão nas redes sociais. Algumas espécies estão referenciadas em artigos científicos e ou livros de autores reconhecidos. Neste momento, a lista contém 140 espécies.
- Agaricus augustus
- Agaricus impudicus
- Agaricus porphyrizon
- Agaricus sylvaticus
- Agaricus sylvicola
- Agaricus xanthodermus
- Amanita boudieri
- Amanita citrina
- Amanita curtipes
- Amanita fulva
- Amanita gemmata
- Amanita gilbertii
- Amanita gracilior
- Amanita muscaria
- Amanita ovoidea
- Amanita phalloides
- Amanita rubescens
- Amanita torrendii
- Armillaria mellea
- Arrhenia spathulata
- Astraeus hygrometricus
- Bolbitius titubans
- Boletus edulis
- Calocera cornea
- Cantharellus cibarius
- Chlorophyllum rachodes
- Chroogomphus rutilus
- Clathrus ruber
- Clavulina cristata
- Clitocybe nebularis
- Clitocybe odora
- Coprinellus disseminatus
- Coprinopsis picacea
- Cordyceps militaris
- Cortinarius croceus
- Cortinarius mucosus
- Cortinarius scobinaceus
- Cortinarius semisanguineus
- Cortinarius variicolor
- Craterellus cornucopioides
- Craterellus lutescens
- Craterellus tubaeformis
- Crepidotus calolepis
- Crepidotus epibryus
- Crepidotus variabilis
- Cystoderma amianthinum
- Entoloma incanum
- Geastrum triplex
- Gomphidius roseus
- Gymnopilus junonius
- Gymnopilus penetrans
- Gymnopus brassicolens
- Gymnopus fusipes
- Gyroporus castaneus
- Helvella crispa
- Helvella lacunosa
- Hohenbuehelia geogenia
- Hydnellum ferrugineum
- Hydnum rufescens
- Hygrocybe cantharellus
- Hygrocybe conica
- Hygrophoropsis aurantiaca
- Hypholoma fasciculare
- Imleria badia
- Infundibulicybe costata
- Inocybe geophylla var. lilacina
- Laccaria amethystina
- Laccaria laccata
- Lactarius chrysorrheus
- Lactarius controversus
- Lactarius deliciosus
- Lactarius sanguifluus
- Lactarius uvidus
- Laurobasidium lauri
- Lepiota felina
- Lepista nuda
- Leratiomyces ceres
- Leucoagaricus bresadolae
- Leucoagaricus croceovelutinus
- Leucoagaricus sublittoralis
- Leucopaxillus gentianeus
- Leucopaxillus giganteus
- Lycoperdon perlatum
- Macrolepiota procera
- Macrotyphula juncea
- Megacollybia platyphylla
- Meottomyces dissimulans
- Mitrula paludosa
- Mutinus caninus
- Myriostoma coliforme
- Mycena acicula
- Mycena dunicola
- Mycena erubescens
- Mycena inclinata
- Mycena rosea
- Mycena seynesii
- Neolentinus lepideus
- Paralepista flaccida
- Parasola conopilus
- Paxillus involutus
- Phallus impudicus
- Pleurotus ostreatus
- Pluteus cervinus
- Pluteus petasatus
- Psathyrella candolleana
- Psathyrella melanthina
- Psathyrella piluliformis
- Pseudoboletus parasiticus
- Pseudoclitocybe cyathiformis
- Ramaria stricta
- Rheubarbariboletus armeniacus
- Rhizopogon luteolus
- Rhizopogon roseolus
- Rhodocollybia butyracea
- Rickenella fibula
- Russula adusta
- Russula badia
- Russula insignis
- Russula torulosa
- Sarcodon squamosus
- Schizophyllum commune
- Scleroderma areolatum
- Scleroderma citrina
- Scleroderma polyrhizum
- Suillus bellinii
- Suillus bovinus
- Tapinella atrotomentosa
- Thelephora terrestris
- Tricholoma caligatum
- Tricholoma colossus
- Tricholoma equestre
- Tricholoma saponaceum
- Tricholoma sulphureum
- Tricholoma terreum
- Tricholomopsis rutilans
- Tylopilus felleus
- Volvopluteus gloiocephalus
- Xerocomellus chrysenteron
- Xerocomus subtomentosus
- Xylaria hypoxylon
Gostaria de agradecer de forma especial ao meu amigo José Miguel Pereira e ao professor Paulo de Oliveira, do departamento de Biologia da Universidade de Évora, as correcções, as sugestões e darem-me a conhecer algumas referências a espécies identificadas no Pinhal do Rei e publicadas em diversos meios, nem sempre facilmente acessíveis. Também gostaria de deixar um sentido agradecimento a todos aqueles que manifestaram o seu apoio e incentivo à consecução deste trabalho.
Texto: PC.